“Tratar a apneia diminui o risco de morte em 40%”, é o que afirma a neurologista Andrea Bacelar, da clínica Carlos Bacelar, na Tijuca. Segundo a doutora, a Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), que ocorre em mais de 5% da população, é a principal causa de hipertensão secundária, sendo a obesidade um fator de risco importante para o seu desenvolvimento. E uma vez que cresce o número de obesos no mundo, aumenta também o risco de desenvolver apneia do sono, podendo chegar a 30%.
O distúrbio é caracterizado por repetidas oclusões da faringe posterior durante o sono, provocando obstrução da passagem do ar. Ocorre a queda do oxigênio na circulação, seguida de um despertar breve para a retomada da respiração normal. A neurologista explica que essa baixa do oxigênio circulante está relacionada ao aumento da liberação de adrenalina que, associada à liberação de substâncias pró-inflamatórias e fatores pró-trombóticos, favorecem a aterosclerose, o entupimento das artérias e a hipertensão arterial.
Segundo a doutora Andrea, a apneia está associada ao cansaço durante o dia decorrente da fragmentação do sono e age no sistema circulatório em três regiões: no vaso sanguíneo, endurecendo a parede das artérias (aterosclerose); na circulação, aumentando a viscosidade do sangue (aumento da agregação plaquetária); e, diretamente no coração, facilitando o aparecimento de arritmias cardíacas, infarto agudo do miocárdio e até falência cardíaca. “Estudo recente demonstra que após 7 anos, 16% das pessoas que não trataram a apneia desenvolveram doenças cardiovasculares e que, em outro grupo de apneicos estudados, após 15 anos, pode-se observar redução do óbito em 40% do grupo que tratou em relação ao grupo que não tratou a apneia”, citou a neurologista ressaltando os estudos publicados recentemente no European Respiratory Journal (Eur Respir J. 2006 Sep; 28(3):596-602 e Eur Respir J. 2002 Dec; 20(6):1511-8)
Pesquisas também revelam que os pacientes hipertensos com apneia que trataram o problema com aparelho CPAP*, que gera pressão positiva de ar nas vias aéreas, reduziram em 2.5 pontos a pressão arterial sistólica e 1.8 a pressão diastólica (Hypertension. 2007 Aug;50(2):417-23l). “Isso demonstra que o tratamento da apneia do sono vai muito além da melhora da sonolência diurna. É capaz de mudar a história natural da doença, prevenir doenças cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida a longo prazo”, comentou a doutora Andrea.
A médica aponta o ronco como principal sinal de alerta para a apneia do sono e indica a polissonografia** como o exame para diagnosticar o problema, devendo ser realizado em todos os pacientes hipertensos, principalmente nos que se queixam de sonolência durante o dia. Quanto ao CPAP, ela diz ser o tratamento mais recomendado atualmente de pacientes que sofrem de apneia moderada e grave.
*CPAP – sigla inglesa para Continuous Positive Airway Pressure, ou Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas. Tratamento de natureza mecânica em que o indivíduo dorme com uma máscara nasal conectada a um gerador de fluxo de ar. A pressão do ar gerada evita o colapso das vias aéreas e elimina completamente os distúrbios respiratórios noturnos.
**Polissonografia – exame que registra, durante uma noite inteira de sono, uma série de funções do organismo: atividade elétrica do cérebro (EEG), movimentos oculares, atividade muscular, eletrocardiograma, movimentos respiratórios, respiração nasal e bucal e o nível de oxigênio no sangue. Pode ser realizado num laboratório de sono ou no domicílio do paciente, com aparelhos portáteis.
Fonte: Dra. Andrea Bacelar, neurologista da clínica Carlos Bacelar – RJ